09 set 2019 Esdras CETAD, DESTAQUE (notícias em destaque), Estudo Bíblico, Notícias
1.4 – A função da profecia no mundo judaico
A revelação bíblica, durante o período interbíblico, é continuada e progressiva. Por isso, a função profética e o movimento em si vão ganhando elementos para composição do ofício. Contudo, persistem muitas dúvidas quanto ao modo de entender o fazer profético. Isso porque, no primeiro momento, a função profética na Bíblia não diferencia de outras culturas. Mas, ao longo da narrativa bíblica, características vão sendo apontadas pelos escritores biblicos, que, acaba dando uma ideia do desenvolvimento do ministério dentro do judaísmo.
Para alguns autores contemporêno, a função do profeta é passiva, ou seja, ele não tem controle do exercício, pois acaba sendo apoderado ou chamado pelo espírito. Outros defendem que o desempenho de suas atividades o profeta é ativo, ou seja, é o arauto, ou o locutor.
De qualquer forma, pode-se dizer que o profeta era alguém que tinha como missão transmitir uma mensagem que a divindade lhe confiava. As funções do profeta ganha um contorno nitido com Samuel, quem começa o ministério profético. A partir dessa época começa outra ordem de profetas, como os profetas da corte e os literários, distinguidos entre maiores e menores.
Os profetas bíblicos, além de portadores dos oráculos divinos, eram consultados para resolver problemas de saúde (1 Reis: 17,17-18), insalubridade da água (2 Reis: 2,19-22), perda de um jumento (I Samuel: 9,1-10), defesa de território (Números: 22,2-6) e outras coisas.
Mas como ofício o profeta deveria possuir uma profunda experiência com Deus, para que pudesse promover na comunidade uma entrega a Deus (Isaías: 52,6; 65,1). Cabia ao profeta retomar junto ao povo os critérios da aliança estabelecida por Deus (Deuteronômio: 32,10 -11). Era responsabilidade dele exigir fidelidade à aliança, lembrando ao povo de seu compromisso, de ser uma nação santa (Êxodo: 19,9).
Entretanto, o profeta precisa ter uma profunda experiência com o homem e entender que a causa primária do sofrimento humano é o pecado. Ele deveria desenvolver sua sensibilidade para ser o defensor dos oprimidos: pobre, viúvas, estrangeiros e escravos (Deuteronômio: 15.1-11; Levítico: 25,35-43; Isaías: 1,6-7; Jeremias: 30,12-15).
Ao profeta tinha a função de denunciar as injustiças sociais e a corrupção às ordenanças divinas, enfrentar o governo (Jeremias: 21,11); o comércio (Amós 8,4-8); o Tribunal (Miquéias: 3,9-12) e até o Sacerdócio (Oséias: 4,4-14).
O escritor Gleason L. Archer Jr., em seu livro Merece Confiança o Antigo Testamento?, de 1991, analisa três tipos de funções essenciais da profecia entre o povo Judeu.
1ª) O profeta deveria estimular o povo de Deus a confiar nEle. O escritor comenta que os ensinamentos de Moisés que a segurança de Israel estava no Todo Poderoso. Na mesma linha, pregava os profetas durante a crise em Israel e Judá, norte e sul, respectivamente.
2ª) O profeta alertava que o sucesso dependia da fidelidade à aliança. Nas mensagens, Moisés e os profetas reafirmaram os conceitos da aliança – principalmente do Sinai. Coelho (2004) salientou que o profetismo não trouxe uma mensagem inédita, reafirmou, através de diferentes interlocutores, à fidelidade aos preceitos divinos. Ao falar ao povo, mesmo trazendo uma mensagem futurística, o profeta revigorava os conceitos passados. A noção de profecia, em outras culturas, estava associada o que haveria de acontecer. No profetismo Judaíco, o profeta fazia previsões e analisava o contexto atual, mas sempre com os olhos no passado, na aliança.
3ª) O profeta direcionava Israel para um reino messiânico. A mensagem Messiânica faz parte da narrativa do profetismo, porque apontava para um tempo de restauração espiritual e nacionalista. Para os guardiões da lei, o juízo, castigo e até mesmo o cativeiro fazia parte de um plano maior: a redenção humana. Para isso, eles deixavam claro que Deus escolhera um povo zeloso e de boas obras (Tito: 2,13-15). “Os profetas faziam o papel da Palavra ainda não concluída, ou seja, eles eram a voz de Deus naquele momento”, salienta Coelho (2004).
1.5 – Tipos de profetas
Ao longo da revelação bíblica, no período veterotestamentário, vários profetas foram surgindo, com diversos tipos de atuação. O profetismo no Antigo Testamento, no desenrolar da narrativa, vai ganhando novos contornos e características, o que o torna peculiar.
Essa ideia é corroborada pelo professor Isaltino Gomes Coelho Filho (2004), que destaca a existência de cinco tipos de profetas no Antigo Testamento. O primeiro, de acordo com o educador, seria o vidente, “aquele que vê coisas escondidas”, como Samuel, por exemplo. No texto de 1 Samuel: 9, o profeta sabia onde se encontrava as jumentas extraviadas de Saul.
O segundo tipo de profeta descrito pelo professor é aquele que age por conta própria, ou seja, mesmo sem ser convocado, ele aponta os erros e as irregularidades, como Natã. Esse profeta apontou o homicídio e o adultério cometido pelo Rei Davi, em 2 Samuel 12.
O pesquisador ainda acrescenta um terceiro tipo: os profetas organizados em grupos, como a Escola de Profetas. Normalmente, eles tinham um líder que direcionava as ações, como Elias (2Reis: 2,3) e com Eliseu, que possuía discípulos, como Geazi (2Reis: 4,1).
O professor (COELHO, 2004) aponta para homens que profetizaram – encontrado no meio dos profetas (1Samuel: 19,18-24). Porém, COELHO (2004), não considera um profeta, como por exemplo Saul. Vale salientar que, a rigor, dizer que Saul profetizou, como um profeta bíblico, é questionável na opinião de muitos pesquisadores.
Hoff (1996, apud COELHO, 2004) observou que não há nada que indique que Saul tenha profetizado como um profeta de Deus. A melhor alternativa é traduzir o termo profetizar’ nesta ocasião como ficou em transe profético: “E, chegando eles ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou dele, e profetizou no meio deles” (1 Samuel: 10,10).
De acordo com a tradição, o acontecimento de 1Samuel: 10,9-12 deu início a um adágio popular, porque, toda vez que alguém que não era reconhecido como profeta, perguntava-se: “Será que Saul também virou profeta?” E parece também que se tornou um ditado pejorativo, devido ao trágico desfecho do reinado de Saul.
O professor ainda comenta que havia grupos de profetas, que profetizavam “ao som de música e em dança” (1Samuel: 10,5-13). Para Bright (2003, apud COELHO, 2004), eles são a representação de um fenômeno comum no mundo antigo, semelhante aos canaanitas e da Mesopotânia.
Tais grupos eram autênticas ordens proféticas, com profundo senso político, vivendo em comunidades (2Rs 2.3-5 e 4.38-44), sustentados por ofertas (2Reis: 4,42), comandados por um líder (2Reis: 6,1-7), vestidos de pêlos (2Rs 1.8), que se tornaram seu traje oficial e, possivelmente, identificados por uma marca na testa (1Reis: 20,41). Enlevados pela música e pela dança, entravam em êxtases. Parece que o clima altamente emotivo do grupo envolveu a Saul, cujo estado emocional já não era dos mais seguros, mostrando o texto bíblico seu profundo desequilíbrio no momento. Evidentemente, tal prática não pode ser modelo para os profetas. Tais eventos representam um momento em que a Palavra do Senhor era escassa. É o que se lê em 1 Samuel: 3.1 (COLEHO, 2004).
Eruditos, como Bright (2003) dão ao profeta Samuel como fundador de tais ordens No entanto, autores, como Merril C. Tenney, na obra The Zondervan pictorial encyclopedia of the Bible (Zondervan), publicada em 1976, têm questionado o conceito de uma escola de profetas. Ele explica que não existem provas bíblicas que esses grupos fossem treinados para o desenvolvimento de ofício. Para o autor o texto bíblico não deixa claro que esses homens fosse preparados academicamente para exercer a função. “Deus chamava os profetas como indivíduos. Isto foi verdade com Moisés, Samuel, Isaías, Jeremias, e em muitos outros casos onde há registro de chamada” (TENNEY, 1976).
Ao ler os textos sagrados do Antigo Testamento, fica evidente que a função profética era uma iniciativa pessoal, em que cada individuo recebia uma mensagem encaminhada por Deus e a transmitia ao povo dEle. A revelação do Todo Poderoso não acontecia com frequência, por isso, o profeta veterotestamentário dirigia seu esforço em motivar a nação na busca por um relacionamento com Deus.
Após a divisão do Reino Israelita, o único tempo ficou no com as duas tribos do Sul (Judá e Benjamim), em Jerusalém. O serviço levítico e sacerdotal acabou ficando localizado no Reino do Sul.
Talvez isso explica que, apesar da tradição reivindicar a criação da escola de Profeta a Samuel, ela tenha aparecido no Reino do Norte, formado por dez tribos, que continuou a se chamar Israel, com Capital Samaria. Esse fenômeno é destaco na Bíblia em Ramá, Betel, Gilgal, Jericó e Samária. “Era um fenômeno mais comum em Israel que em Judá” (COELHO, 2004).
O quarto tipo de profeta pode ser exemplificado pelos filhos de Corá, família levita do clã dos coatitas e identificados na Bíblia de coraítas. Esses são os profetas do culto.
Os profetas do culto, como os coraítas, se ocupavam de todas as atividades templo. Eles eram os auxiliares dos sacerdotes e desempenhavam várias funções no Tabernáculo e no Templo, em Jerusalém.
O livro de Crônicas diz que os filhos de Corá eram porteiros no santuário Judeu (1 Crônicas: 9,17; 26,1) e estavam entre os cantores levitas, que foram constituídos pelo rei Davi para “dirigir o canto na Casa do Senhor, depois que a Arca teve repouso” (1 Crônicas: 6,31).
Mais tarde, já durante o reinado do rei Josafá, os filhos de Corá foram contabilizados dos entre os levitas que louvaram a Deus em alta voz numa batalha que Israel não precisou lutar (2 Crônicas: 20,19).
A Bíblia também fala de alguns coraítas de Benjamim que se juntaram a Davi em Ziclaque. Esses coraítas eram guerreiros habilidosos que ficaram ao lado de Davi enquanto ele sofria perseguição por parte do rei Saul (1 Crônicas : 12,6). Entre os coraítas mais ilustres citados nas genealogias bíblicas estavam o profeta Samuel e Hemã, o cantor (1 Crônicas: 6,22,28,33).
Mas o título de profetas do culto vem pela bibliografia deixada por eles. Os salmos 42-49, 84, 85, 87 e 88 são atribuídos aos filhos de Corá. Vale salientar que a exceção deste grupo é o Salmo 43 não traz em seu cabeçalho a identificação dos filhos de Corá.
O quinto e último tipo de profeta veterotestamentário é o profetismo messiânico-escatológico. Os escritores do Antigo Testamento não trouxeram muitos ensinamentos claros das doutrinas denominadas “escatologia futura”. Eles pouco abordam temas como a vida pós-morte, segunda vinda de Cristo, juízo final, céu, inferno e outros. Nesse sentido, os profetas clássicos (escritores) talvez sejam os que mais colaboraram para desenvolver alguns dos temas que associassem a vinda do Messias e a escatologia, como por exemplo Ageu, Zacarias e Malaquias.
No entanto, existe um outro sentido, o qual o Antigo Testamento está orientado escatologicamente do princípio ao fim. George Ladd (1964, apud HOEKEMA, 1989) o descreve da seguinte forma:
Conclui-se que a esperança de Israel, pelo reino de Deus, é uma esperança escatológica, e essa escatologia é a consequência inevitável da visão que Israel tem de Deus. O antigo criticismo wellhauseniano insistia que a escatologia era um desenvolvimento tardio que emergiu somente na época pós-exílica. Recentemente, o pêndulo tem se inclinado para outra direção, e o caráter fundamental da escatologia israelita tem sido reconhecido. Pode-se citar um número cada vez maior de eruditos que reconhece que foi o conceito de Deus, ocupando-se com Israel na história redentiva, a causa do surgimento da esperança escatológica.
Para Anthony A Hoekema (1989), a escatologia não surgiu quando o povo começou a duvidar da veracidade do reinado de Deus no culto, mas sim quando eles tiveram de aprender, em meio a um grande sofrimento, a confiar em Deus, pela fé somente, como o único fundamento firme da vida. “Dessa maneira, a vida de Israel na história passou a ter um aspecto duplo: por um lado, o juízo era considerado próximo, tangível, e a recriação da comunidade de Deus como algo que se avizinhava (…)”.
Ao ler as escrituras sagradas, fica claro que a escatologia é uma certeza religiosa, como consequência da confiança do povo de Israel em Deus. Para os profetas, como Isaías, a mensagem sobre futuro estava alinhada com a salvação, restauração e redenção da nação israelita.
Por causa disso, Vriezen (XXXX, apud HOEKEMA, 1989) garante que, “no coração da mensagem do Antigo Testamento está a expectativa do reino de Deus, e em Jesus de Nazaré está o cumprimento inicial dessa expectativa (…)”.
Mas HOEKEMA (1989) aprofunda mais o assunto e lembra que o messiânico-escatológico está incorporado na ideia de um reino eterno e justo de Deus. Nesse tempo “futuro” ou escatológico, o povo Judeu não seria mais oprimido e nem tão pouco corrompido pelas demais religiões.
HOEKEMA (1989) salienta que o termo “reino de Deus” não aparece no texto veterotestamentário, mas o ideal de um Deus está exposto particularmente em Salmos e nos profetas. Deus é denominado, com frequência, de Rei, tanto de Israel (Deuteronômio: 33,5; Salmo: 84,3; 145,1; Isaías: 43,15), como de toda a terra (Salmo: 29,10; 47,2; 96,10; 97,1; 103,19; 145,11-13; Isaías: 6,5; Jeremias: 46,18).
No entanto, por causa das transgressões à Lei e a rebeldia dos homens, o senhorio de Deus é efetuado apenas imperfeitamente na história de Israel. “Por causa disso, os profetas aguardavam um dia em que o reinado de Deus pudesse ser provado plenamente, não somente por Israel, mas pelo mundo inteiro” (HOEKEMA, 1989).
A ideia de um reino no porvir é trabalhada pelo profeta Daniel. No capítulo 2 de sua profecia, ele fala acerca do reino que Deus um dia levantará, que nunca será destruído, que quebrará todos os outros reinos em pedaços e permanecerá para sempre (versículos 44-45).
Em Daniel: 7,13-14, o profeta diz que ao Filho do Homem é dado um domínio eterno e um reino que não será destruído. “Por causa disso, Daniel prediz não apenas a vinda de um reino futuro, mas conjuga esse reino com a vinda do redentor, a quem descreve como o Filho do Homem”, HOEKEMA (1989).
Um outro conceito que aparece no Antigo Testamento referente à escatologia apontado pelos profetas é o da nova aliança. Nos dias de Jeremias, entretanto, o povo de Judá havia quebrado a aliança de Deus com eles por meio de suas idolatrias e transgressões. Porém, ele profetiza que Deus faria uma nova aliança, perfeita e eterna. “Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança” (Jeremias: 31,31-32; ver também 33-34). A partir do Novo Testamento (ver Hebreus: 8,8-13; 1 Coríntios: 11.25) fica claro que a nova aliança predita por Jeremias foi instaurada por Jesus Cristo.
1.6 – Pontos norteadores da mensagem profética
Normalmente, a concepção de um profeta é alguém em “estado de transe”3 trazendo revelações do passado, mostrando pontos de melhorias do presente e anunciando o futuro. Mas o profetismo judaico, o que o torna um fenômeno singular, tem uma mensagem exortativa, analítica e motivacional.
A mensagem profética no Antigo Testamento não é uma colcha de retalhos, onde o arauto diz o que quer. O professor Isaltino Gomes Coelho Filho (2004), ressalta que o profeta não é um temperamental emburrado.
A angústia de Jeremias mostra um homem que vê o que está por acontecer ao seu povo e que sofre com isso. Ele não se alegra com a desgraça, mas chora por causa dela: Ah! Meu coração! Meu coração! Eu me
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3 Transe é um estado alterado de consciência, um dos objetivos a serem atingidos pela hipnose. Trata-se de um estado de consciência onde podem ocorrer diversos eventos neuro-fisiológicos (anestesia, hipermnésia, amnésia, alucinações perceptivas, hiper sugestionabilidade etc). Hugo Lapa: https://hugolapa.wordpress.com/2009/10/25/o-que-e-transe/
contorço em dores. Oh! As paredes do meu coração! Meu coração se agita! Não posso calar-me, porque ouves, ó minha alma, o som da trombeta, o alarido de guerra (Jeremias: 4,19).
O profeta tinha como ofício de ser um guardião das leis e mandamentos de Deus. Cabia a ele, em sua mensagem, a preservação da memória dos atos de Deus como consequência da obediência ou rebeldia do povo.
Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR jurou a vossos pais.
E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não.
E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.
Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos.
Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus.
E guarda os mandamentos do Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos e para o temeres.
Porque o Senhor teu Deus te põe numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das montanhas;
Terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel.
Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre.
Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu.
Guarda-te que não te esqueças do Senhor teu Deus, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno;
Para não suceder que, havendo tu comido e fores farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as,
E se tiverem aumentado os teus gados e os teus rebanhos, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens,
Se eleve o teu coração e te esqueças do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão;
Que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água para ti da rocha pederneira;
Que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem;
E digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder.
Antes te lembrarás do Senhor teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia.
Será, porém, que, se de qualquer modo te esqueceres do Senhor teu Deus, e se ouvires outros deuses, e os servires, e te inclinares perante eles, hoje eu testifico contra vós que certamente perecereis.
Como as nações que o Senhor destruiu diante de vós, assim vós perecereis, porquanto não queríeis obedecer à voz do Senhor vosso Deus. (Deuteronômio: 8,1-20)
O texto de Deuteronômio registra as palavras do profeta Moisés, que trabalha com verbos (de acordo com a tradução em português) que procuram avivar a mente dos ouvintes, como “guardar”, “lembrar”, “ouvir” e “esquecer”.
Em sua mensagem, o profeta é um instrutor do povo e seus ensinos tem como base a Palavra de Deus. Ele traz ao conhecimento do povo preceitos da aliança e expõem como deve ser o viver de cada um. O profetismo associa a teoria à prática cotidiana, individual e coletivamente. “Isto servia como alerta às instituições, políticas, religiosas ou denominacionais (..) O profeta denuncia o pecado individual e estrutural e aponta o caminho correto: arrependimento” (COELHO, 2004).
A mensagem profética, por meio dos seus interlocutores, faz uma leitura e releitura da história. Os profetas mostram a ação de Deus através dos tempos e que Ele é a fonte de toda profecia ao povo escolhidos (Ezequiel: 14,8; 32,15 e Isaías: 45,3).
O profeta faz uma exegese dos acontecimentos passados e atuais e produz uma reflexão mostrando as causas e consequências. A análise histórica feita pelo profeta demonstra que possui uma visão do todo, progressiva, continuada e não desconexas
Ele é uma espécie de “sentinela da história, conhece a outra face dos acontecimentos humanos e sabe da transcendência do acontecer e do fazer humano” (COELHO, 2004).
O profeta é a “voz” de Deus para nação e, por cerca de 260 vezes, aparece à expressão “assim disse o Senhor” ou “assim disse Javé” (Jeremias: 29,8-28; Isaías: 37,6).
Na mensagem profética é uma ação e consequência, ou seja, a obediência trará bênçãos futuras, mas a desobediência será o fracasso de Israel. Para os profetas, se o povo convertesse o seu coração hoje a Deus, o Todo Poderoso garantiria prosperidade, tranquilidade e a paz (Deuteronômio: 30,3; Isaías: 6,10; Jeremias: 18,8 e Ezequiel: 3,19).
Mas a mensagem profética fazia críticas ao culto (Amós: 4,4; 5,5,21; Oséias: 8,11; Isaías: 1,15 e Jeremias: 14,11), social (Amós: 2,6; 3,10; Oséias: 4,1; Isaías: 5,7, e Jeremias: 22,15) e a autoconfiança religiosa (Amós: 3,2; 9,7; Isaías: 6,9; Ezequiel: 15,1-6).
Em suas mensagens, os profetas denunciam os falsos profetas Judeus e não-judeus, que corroboravam para corrupção espiritual do povo (Isaías: 29,7; Miquéias: 3,5, e Jeremias: 6,3).
Por fim, a mensagem profética tem um teor consolador. Ao mesmo tempo em que anuncia o juízo e chama ao arrependimento. Antes profeta Isaías traz uma serie de textos mostrando o juízo de Deus devido as desobediência dos israelitas. No entanto, no capítulo 40, ele lança um balsamo: “Consolai, consolai o meu povo” (Isaías: 40,1).
O profetismo Judaico não fica em um templo, no alto de um monte, vendo, de longe o sofrimento e a angustia e as derrotas de Israel. Comparado a mitologia e a filosofia grega, que possuía o Olimpo, o profeta Judeu sofre e padece junto ao seu povo.
Quando Israel foi levada ao cativeiro babilônico e a cidade Santa – Jerusalém – foi destruída, Jeremias chorou e se lamentou (livro de Lamentações). Enquanto o povo estava no exílio, o profeta enviava cartas para encorajar o povo e mostrar que o Todo Poderoso não havia abandonado (Jeremias: 29)
O profeta tem uma personalidade multifacetada, exibindo vários ângulos. Sabe discordar, sabe denunciar, sabe condenar, sabe confortar, sabe ensinar, sabe interpretar, sabe estimular. Não é um fanático ignorante deblaterando coisas inúteis, mas um homem que entende o mundo e sabe como analisá-lo. E, tendo convicção de que é assim que Deus deseja as coisas, prende-se a isto. (COLEHO, 2004).
Continua na próxima sexta-feira….
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Nota: A imagem em destaque é “Elias revivendo o filho da viúva de Sarepta”, por Louis Hersent (1.777-1860).
SILVA, Esdras Domingos da. Profetismo veterotestamentário como reação à crise social. 2018-2019. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Curso de Teologia – Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson (Unar), Araras (SP), 2019.
O Autor:
Esdras Domingos da Silva é casado e presbítero da Assembleia de Deus – Belém – Campo de Limeira, em Artur Nogueira. Ele é jornalista, bacharel em teologia pelo CETAD e UNAR e especializado em gestão ambiental pela Faculdade Anhanguera. Esdras é um dos responsáveis pelo site da IEAD Belém e professor no CETAD.