25 abr 2020 Esdras DESTAQUE (notícias em destaque), Notícias, Saúde
Camila Ferreira Locateli
Em 2017, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que o Brasil tinha a maior taxa de ansiedade do mundo. Conforme os dados, 9,3% dos brasileiros apresentam algum transtorno de ansiedade e os transtornos depressivos atingem por volta de 5,8% da população. Ainda segundo a OMS, no mundo 264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade.
Por que o brasileiro está tão ansioso? Não podemos desconsiderar os fatores sociais, políticos e econômicos que nosso país está enfrentando. A recessão econômica, a instabilidade política, a desigualdade social e o desemprego são situações que amedrontam muitos brasileiros. Outro fator que pesa muito é o estilo de vida que nós estamos nos submetendo: estresse, pressa, com poucas horas de sono e descanso, muito barulho, bombardeio de informações (incluindo muitas notícias ruins), má alimentação e uma preocupação incessante e patológica para com o futuro. Acrescido a tudo isso, todos nós nos vimos impotentes frente à pandemia do COVID-19, situação que nunca iríamos imaginar que faria nossa rotina mudar completamente.
A ansiedade afeta o bolso do brasileiro também. De acordo com a Previdência Social, por ano R$ 200 milhões são gastos pelo INSS para pagamentos de benefícios da terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil: os transtornos mentais, os quais a ansiedade e a depressão são os mais incidentes. Falar de saúde mental é mais urgente do que nunca, deixar nossos preconceitos de lado em relação às pessoas com transtornos mentais também.
A verdade é que todas as pessoas possuem algum grau de ansiedade. Isso porque ela tem uma função em nossa vida. A ansiedade nos faz ficarmos atentos e alertas diante de um perigo eminente e nos estimula a estarmos preparados para lidar com a ameaça. É uma forma de “proteção”. Porém, quando ela ocupa proporções grandes em nossas vidas traz consigo prejuízos enormes.
A ansiedade é tão presente na história humana que há mais de 2000 anos nos escritos da bíblia já havia referências sobre essa emoção humana e a preocupação de que ela não tomasse conta da vida. Um exemplo está escrito no livro de I Pedro, capítulo 5 e versículo 7.
Em resumo: a ansiedade é uma emoção ÚTIL, NORMAL e HUMANA que está muito presente nas mudanças e experiências novas. Porém, como um sintoma dimensional, altas proporções de ansiedade nos trazem prejuízos funcionais e sociais.
1) Quando a ansiedade é um problema de saúde
A ansiedade se torna um problema de saúde quando afeta nossa qualidade de vida e funcionalidade diária. É como uma falta de paz constante que nos atrapalha de viver normalmente. O diagnóstico dos Transtornos de Ansiedade possui como critério a presença de níveis de Ansiedade que causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social. Ou seja, uma ansiedade que atrapalha o dia a dia, dificulta os relacionamentos familiares, amorosos, de trabalho, na faculdade, no lazer, na escola, etc.
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-V) na Ansiedade Generalizada a ansiedade é constante e permanente, já nas Crises de Pânicoaansiedade aparece de forma abrupta e mais ou menos intensa (se ocorrerem de modo repetitivo se configura como Transtorno de Pânico). E as fobias possuem um objeto específico que produz medo (ex. aracnofobia, que é a fobia de aranhas).
Segundo o psiquiatra Dalgalarrondo (2008), o Transtorno de Ansiedade Generalizada é caracterizado pela dificuldade da pessoa em controlar a excessiva ansiedade e preocupação na maior parte do tempo por um período mínimo de 6 meses. E que apresenta pelo menos 3 dos seguintes sintomas: Cansaço fácil, sono alterado, inquietação, irritabilidade, “pavio curto”, falta de concentração e sentir um “branco” na mente, tensão muscular e dificuldade de relaxar. Em síntese, a pessoa apresenta sensações físicas, como também a consciência de estar nervoso ou com medo.
Continua na próxima semana…
Sobre a autora
Camila Ferreira Locateli (CRP -06/154242) é psicóloga e membro da IEAD – Belém – Campo de Limeira. Ela é especialista em Neuropsicologia e mestranda em avaliação e reabilitação neuropsicológica pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, atua como psicóloga educacional em uma rede de escolas e como psicóloga clínica em consultório particular em Limeira (SP).
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Referências:
Dalgalarrondo, P. (2008). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. (2ª ed., 120-136). Porto Alegre: Artmed.
American Psychiatric Association. (2014). DSM-V Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (5ª Ed.). Porto Alegre: Artmed
Imagem destque\repdoução: https://guiadafarmacia.com.br/materia/fim-de-ano-pode-aumentar-crises-de-ansiedade/