16 ago 2019 Esdras CETAD, DESTAQUE (notícias em destaque), Notícias
CAPÍTULO III
A Teologia da Libertação no Brasil
Primeiros Passos
O período de ditaduras na América Latina se estende desde 1954 na Guatemala até 1990 no processo de redemocratização do Chile. No Brasil, a ditadura implantada em 1964 se estendeu até 1985.
Em toda a América grupos diversos se envolveram diretamente na luta para o retorno dos estados democráticos de direito, tendo bases na esquerda revolucionária na maior parte das ações, porém espalhadas e dissolvidas em vários grupos ativos. Entre todos os grupos sociais, a igreja também teve sua vertente de combate pelo direito dos povos e, sobretudo, na luta pela melhora das condições sociais dos pobres e flagelados.
Justamente nessa ação direta é que a teologia da libertação passou a alcançar espaço e se colocar no enfrentamento político/social visto que, a exemplo do que era encontrado em outros lugares da América, o Brasil vivia uma crise econômica e política que implicava em uma grave situação social, visivelmente marcada pela injustiça, pobreza, analfabetismo e violência.
Esse difícil cenário, criou como alternativa a crescente proposta de reformas de base, com forte influência ideológica comunista e, em oposição, grupos conservadores se articulavam junto ao governo dos Estados Unidos por uma intervenção direta no governo.
Tendo as cartas postas a mesa, a igreja oficialmente se posiciona a favor do Golpe Civil-Militar articulado por grupos tradicionais, conservadores e elitizados brasileiros próximos a Washington. Porém, seguindo sua gênese questionadora e reflexiva, a teologia da libertação que assumia a posição contrária as intervenções e golpes promovidos por militares e pelos EUA em toda América Latina, no Brasil, também se apresentou como “revolucionária”.
Em 02 de Julho de 1964, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, deixou claro seu apoio ao Golpe e ordenou a execução de um “Te Deum”, ação de graças, considerando o país livre do “comunismo Ateu”. Apesar de ter uma preocupação com a preservação dos direitos humanos.
Desenhava-se assim o forte embate entre a posição da Igreja institucionalizada e a Teologia da Libertação, situação que aos poucos foi sendo contornada com as novas posições da Igreja diante dos crimes cometidos pelos agentes da repressão durante a Ditadura Militar no Brasil.
Quanto a teologia da libertação, o Professor Doutor Francisco das Chagas de Albuquerque diz:
A ação eclesial contra as injustiças e a violência perpetradas por tal regime se fundamenta não em uma opção política partidária ou ideologia qualquer, mas sim na fé em Cristo Jesus e seu evangelho. A reflexão teológica da fé em chave libertadora se desenvolveu fortemente no final dos anos 60 até os anos 80. Tal atividade teórico-prática foi realizada a partir do compromisso de muitos cristãos, entre eles teólogas e teólogos, os quais ajudavam com a reflexão os cristãos e a Igreja institucional a posicionar-se com consciência crítica e comprometida frente àquela realidade. (Albuquerque, 2017)
Assim, as Comunidades Eclesiais de Base, bem como as organizações de caráter civil e religioso receberam forte influência dos teólogos da libertação que em suas palavras se colocavam como agentes de conscientização da população sobre as mazelas vividas e a necessidade de entender o evangelho de Cristo no contexto do combate à pobreza e aos regimes que desprezavam os direitos humanos.
Segundo Albuquerque,
Portanto, a teologia da libertação prestou relevante contribuição à missão da Igreja e aos homens e mulheres comprometidos na luta pela defesa da vida e os direitos humanos na sociedade brasileira ao longo do regime ditatorial. Ajudou a iluminar de modo crítico e libertador a ação de resistência à repressão e reconstrução do estado de direito em nosso país. (Albuquerque, 2017)
Leonardo Boff e o Balanço da TL
O Teólogo Leonardo Boff, considerado um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação no Brasil, escreveu um artigo fazendo um grande balanço da ação da Teologia da Libertação em toda a América Latina.
Segundo Boff,
Efetivamente a Teologia da Libertação é uma teologia incompreendida, difamada, perseguida e condenada pelos poderes deste mundo. E com razão. Os poderes da economia e do mercado a condenam porque cometeu um crime para eles intolerável: optou por aqueles que estão fora do mercado e são zeros econômicos. Os poderes eclesiásticos a condenaram por cair numa “heresia” prática ao afirmar que o pobre pode ser construtor de uma nova sociedade e também de outro modelo de Igreja. Antes de ser pobre, ele é um oprimido ao qual a Igreja deveria sempre se associar em seu processo de libertação. Isso não é politizar a fé mas praticar uma evangelilzação que inclui também o político. Consequentemente, quem toma partido pelo pobre-oprimido sofre acusações e marginalizações por parte dos poderosos seja civis, seja religiosos.
Por outro lado, a Teologia da Libertação representa uma benção e uma boa nova para os pobres. Sentem que não estão sós, encontraram aliados que assumiram sua causa e suas lutas. Lamentam que o Vaticano e boa parte dos bispos e padres construam no canteiro de seus opressores e se esquecem que Jesus foi um operário e pobre e que morreu em consequência de suas opções libertárias a partir de sua relação para com o Deus da vida que sempre escuta o grito dos oprimidos.
De qualquer forma, numa perspectiva espiritual, é para um teólogo e uma teóloga comprometidos e perseguidos uma honra participar um pouco da paixão dos maltratados deste mundo. (Boff, 2011)
Ainda segundo Leonardo Boff, a teologia da libertação se firmou levando em conta a ação em áreas centrais da interpretação da vida cristã, tendo seu crescimento pautado, sobretudo, na aproximação direta com os povos oprimidos.
Assim, essa ação se fundamentou nos seguintes pontos:
Continua na próxima sexta-feira…..
LEITE, Jonathan de Souza. A teologia da libertação: fé, política e luta. Monografia apresentada na conclusão do Curso de Teologia da Unar – Centro Universitário de Araras “Dr. Edmundo Ulson”: 2019.
Sobre o autor:
Membro da Assembleia de Deus – Belém – Campo de Limeira, em Artur Nogueira, Jonathan é formado em ciências sociais pela Unesp, com especialização em ensino de história. Ele é graduando em Teologia pela UNAR e bacharel em teologia pelo Cetad. Jonathan é Professor de história, filosofia, sociologia e teologia.