23 jul 2019 Redação Assembléia de Deus No Banco com os Heróis
Mais de 100 mil homens e mulheres rodeavam o pregador a mais de 200 anos em Cambuslang, Escócia. As palavras do sermão, vivificadas pelo Espírito Santo, ouviam-se distintamente em todas as partes que formavam esse mar humano. É-nos difícil fazer uma ideia do vulto da multidão de “10 mil penitentes” que responderam ao apelo para se renderem ao Salvador.
Havia um fogo ardente encerrado nos ossos deste pregador. Ardia nele um zelo santo de ver todas as pessoas libertas da escravidão do pecado. Durante vinte e oito dias realizou a incrível façanha de pregar para 10 mil pessoas. Sua voz podia ser ouvida perfeitamente a mais de um quilômetro de distância, apesar de ter físico fraco e sofrer dos pulmões. Não havia prédio que coubesse seu auditório. Nos países onde pregou, armava seu púlpito nos campos, fora da cidade. Daí o título: “Príncipe dos Pregadores ao Ar Livre”.
A vida de Whitefield foi um verdadeiro milagre. Nasceu em uma taberna de bebida alcóolica. Antes de 3 anos de idade, ficou órfão de pai, mas sua mãe casou-se outra vez. Na pensão mantida pela mãe, fazia a limpeza dos quartos, lavava as roupas e vendia bebidas no bar. Entretanto, mesmo sem ter sido encaminhado ao evangelho, neste período, interessava-se profundamente pelo estudo sistemático da Bíblia Sagrada. Estudava-a até alta noite e sem nenhuma pretensão preparava sermões. Onde estudava era conhecido como orador; sua eloquência era natural e espontânea. Um dom extraordinário de Deus; talento este que possuía sem ele mesmo saber.
Custeou os próprios estudos e numa providência divina foi estudar em Pembroke College, Oxford e aí juntou-se a um grupo de estudantes a que pertenciam João e Carlos Wesley. A partir de então, sua vida tomou um rumo completamente diferente, pois, além da dedicação à Palavra, aprendeu também a entrar pelo caminho da oração e do jejum com as novas companhias encontradas no colégio.
Passava muito tempo com o grupo de abnegados pelo Senhor Jesus em jejum e oração, esforçando-se por mortificar a carne com a finalidade de alcançar a salvação. Ele ainda não compreendia que a “verdadeira religião é a união da alma com Deus e a formação de Cristo em nós”.
Acerca da sua salvação, escreveu algum tempo antes de morrer: “Todas as vezes que vou a Oxford, sinto-me impelido a ir primeiro a este lugar onde Jesus se revelou a mim pela primeira vez e me deu o novo nascimento”.
Com a saúde abalada, possivelmente pelo excesso de estudo, Jorge voltou para casa a fim de recuperá-la. Decidido a não cair no indiferentismo, inaugurou logo uma classe bíblica para jovens que como ele desejavam orar e crescer na Graça de Deus. Nesta etapa da sua vida, visitava diariamente doentes, pobres e prisioneiros nas cadeias, orando por eles e prestando assistência espiritual.
Jorge tinha no coração um plano que consistia em preparar cem sermões e apresentar-se para ser separado para o ministério. Porém, quando havia preparado apenas um sermão, seu zelo era tanto que a igreja insistia em ordená-lo com apenas 21 anos, embora fosse regra não aceitar ninguém para tal cargo com menos de 23 anos. Foi assim que, com apenas 21 anos de idade o jovem obreiro foi separado ao Santo Ministério. O dia que precedeu sua consagração, passou-o em jejum e oração. Neste dia, os lábios de Whitefield foram tocados pelo fogo divino do Espírito Santo. Ele trazia consigo as palavras do professor Delaney: “Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa oportunidade como a última que me é dada de pregar, e a última dada ao povo para ouvir”.
Sobre este momento notório em sua vida escreveu: “À tarde, retirei-me para um alto, perto da cidade, onde orei com instância durante duas horas, pedindo em meu favor e também por aqueles que estavam para ser separados comigo. No domingo, levantei-me de madrugada e orei sobre o assunto da epístola de Paulo a Timóteo, especialmente sobre o seguinte preceito: “Ninguém despreze a tua mocidade”. Quando o ancião me impôs as suas mãos, se meu vil coração não me engana, ofereci todo meu espírito, alma e corpo para o serviço no santuário de Deus… Posso testificar, perante os céus e a terra que dei-me a mim mesmo, quando o ancião me impôs as mãos para ser um mártir por Aquele que foi pregado na cruz em meu lugar”.
A mensagem de Whitefield era tão vívida que parecia sobrenatural. Porém, o segredo da grande colheita de almas salvas através da sua pregação arrebatadora e impressionante, não era sua maravilhosa voz nem sua eloquência. Não era caso do povo estar com o coração aberto ao Evangelho, uma vez que à época havia grande decadência espiritual. Também não foi por falta de oposição, pois, em várias ocasiões os templos foram fechados a ele. Em Basingstoke foi agredido a pauladas. Em Staffordshire atiraram-lhe torrões de terra. Em Moorfield destruíram a mesa que lhe servia de púlpito. Em Evesham, autoridades, antes do seu sermão, ameaçaram prendê-lo, se pregasse. Em Exeter, enquanto pregava para 10 mil pessoas, foi apedrejado de tal forma que pensou haver chegado o momento da sua partida. O segredo de tais frutos na sua pregação era o seu amor a Deus.
Jorge Whitefield considerava-se um peregrino errante no mundo, procurando almas. Nasceu, criou-se e diplomou-se na Inglaterra. Atravessou o Atlântico treze vezes. Visitou a Escócia quatorze vezes. Foi ao País de Gales várias vezes. Visitou a Holanda uma vez. Passou quatro meses em Portugal. Nas Bermudas ganhou muitas almas para Cristo.
E assim foi que aos 65 anos de vida, após longo sermão em Exeter, durante sua sétima viagem à América do Norte, findou a sua carreira na terra. Uma vida escondida com Cristo em Deus e derramada num sacrifício de amor por almas.
No seu sepultamento, os sinos das igrejas de Newburyport tocaram incessantemente e as bandeiras estiveram a meia-haste em uma singela homenagem àquele que fora um grande cidadão na terra e doravante apenas do céu.