10 abr 2020 Esdras DESTAQUE (notícias em destaque), Estudo Bíblico, Notícias
Apologética\Esdras D. da Silva
Alguns dias atrás minha filha fez-me um pedido: “Papai, eu quero um ‘ovo’ de Páscoa”. Propus o exercício de explicá-la que o chocolate em formato de ovo não possui relação com a Páscoa registrada na Bíblia Sagrada.
Perguntei se ela lembrava a história de Moisés. Copiosamente, obtive uma resposta afirmativa. Muito bom, pensei. Agora ficou mais fácil. Isso porque, a Páscoa é uma celebração judaica instituída pelo líder do povo de Israel seguindo uma ordem específica do próprio Deus. Para nós, Cristãos, o significado da Páscoa está diretamente relacionado à morte e ressurreição de Cristo.
Mas e os bonitinhos coelhos, ovos coloridos e os deliciosos chocolates como entram na história da Páscoa. Na verdade esses elementos foram introduzidos de forma errônea contribuindo para um sincretismo religioso.
Dados históricos apontam que os egípcios, germânicos e persas foram os primeiros povos da história a apresentarem o hábito de presentearem seus entes queridos com ovos de galinha. Geralmente, essa manifestação ocorria junto com a chegada da primavera e para representar essa época os ovos eram pintados com gravuras indicando paisagens naturais. Mais tarde, os historiadores atribuíram esse aspecto cultural aos chineses.
Quem inventou a moda calórica dos presentes de Páscoa à base de chocolate foram os franceses. Eles esvaziavam os ovos de galinha e os recheavam com chocolate. Finalizavam o presente com uma pintura colorida por fora. Mais tarde, os pais acabaram criando um costume de preparar os ovos e escondê-los no jardim para que as crianças procurassem os presentes deixados pela famosa figura do coelhinho da Páscoa.
Ah sim, o coelhinho. Muitas culturas pagãs organizavam inúmeras festividades durante a primavera. Um desses festejos era dedicado à deusa da fertilidade “Eastre” — ou “Eostre”. Essa divindade guardava uma forte relação com dois símbolos utilizados pelos antigos europeus para representar a fertilidade: a lebre (coelho) e o ovo.
Mas é a verdadeira primeira Páscoa. Essa foi realizada no mês de Abibe (posteriormente chamado de Nisã), que corresponde ao período entre Março e Abril em nosso calendário. Esse mês se tornou o primeiro mês do calendário judaico. A Páscoa também está ligada à Festa dos Pães Asmos e a dedicação dos primogênitos.
A palavra Páscoa significa “passar por cima”, do hebraico pessach, derivado do verbo passah, “saltar” ou “passar”. Este significado faz referência à ocasião em que Deus enviou a décima praga sobre o Egito. Essa décima praga resultou na morte de todos os primogênitos, mas os israelitas nada sofreram.
Portanto, quando o juízo de Deus atingiu os egípcios, as casas dos israelitas que estavam marcadas com o sangue do cordeiro que havia sido sacrificado foram poupadas. Desse modo, o significado “passar por cima” transmite o sentido de “poupar”, ou seja, passar por cima por misericórdia. O juízo de Deus “passou por cima” dos israelitas.
Quando Deus anunciou a décima praga, Ele também deu instruções a Moisés de como os israelitas deveriam proceder. O Senhor ordenou que eles sacrificassem um cordeiro ou cabrito macho sem defeito no décimo quarto dia do mês de Abibe, e espargisse o sangue do cordeiro nos umbrais e no alto dos batentes das portas de suas casas.
Eles deveriam comer a carne do cordeiro assada no fogo, acompanhada de pães asmos e ervas amargas.
A festa da Páscoa Judaica se encerra “na última ceia pascoal” celebrada por Jesus Cristo antes de sua morte. Após aquele momento, ninguém mais deveria sacrificar um cordeiro, assá-lo e comê-lo com ervas amargas e pães asmos. De acordo com a Bíblia, não existe relação entre Páscoa, ovo, chocolate e coelho. Para nós, a nossa Páscoa é o nosso Senhor Jesus Cristo.
O profeta Isaías profetizou acerca do Messias dizendo que como um cordeiro ele foi levado ao matadouro (Isaías 53:7). João Batista acrescentou acerca de Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
Jesus foi traído, preso e crucificado durante a Festa da Páscoa em Jerusalém.
O Cordeiro de Deus seria sacrificado, num sacrifício perfeito e definitivo, sem a necessidade de qualquer complemento. Ao invés da carne de cordeiro assada, das ervas amargas e dos pães asmos, nosso Senhor instituiu o pão e o vinho em memória dele. Ao comermos o pão, nos lembramos de seu corpo partido; e quando tomamos o cálice, nos lembramos do seu sangue derramado.
A última Páscoa deu lugar à primeira Ceia do Senhor, ou seja, a Páscoa passou a ser a Ceia do Senhor. Também é interessante notarmos que a Páscoa apontava para o futuro, para frente, era o símbolo do que haveria de vir. Já a Ceia do Senhor aponta para o passado, para trás, como símbolo da promessa que se cumpriu.
A Páscoa é uma festa judaica, um símbolo que apontava para o sacrifício do Filho de Deus. Quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós, ele cumpriu definitivamente o significado que a Páscoa tipificava. A Páscoa era a sombra; Cristo é a realidade.
Celebrar a Páscoa judaica é celebrar aquilo que era temporário, é voltar ao que é inferior. Dessa forma, Cristo é a nossa Páscoa perfeita, de acordo com o escritor aos Hebreus. Paulo, o apóstolo da graça, foi mais claro quando escreveu que Cristo é o “nosso Cordeiro pascal” que foi sacrificado (1 Coríntios 5:7).
Dessa forma, nós, cristãos, não celebramos a Páscoa uma vez por ano entre os meses de Março e Abril, mas nos reunimos para celebrar a Ceia do Senhor durante o ano todo, em memória de seu sacrifício na cruz do Calvário. Ali seu sangue foi derramado satisfazendo a justiça de Deus, e impedindo que seu povo fosse lançado em condenação eterna.
Para nós, a Páscoa significa que, pelos méritos da obra de Cristo na cruz, a ira de Deus “passou por cima” das nossas vidas, pois nos umbrais de nossas portas seu precioso sangue atestou que fomos justificados. É por isso que num determinado sentido os cristãos não comemoram a Páscoa, antes, celebram a Ceia do Senhor.
Parece que minha filha entendeu. Mas ela ainda insiste que quer o chocolate.
Note de rodapé:
– Minha filha tem 4 anos.
– Referências Bibliográficas:
CONEGERO, Daniel. Qual o Significado da Páscoa? Artigo disponível em <https://estiloadoracao.com/significado-da-pascoa/> Acessado no dia 07 de abril de 2020.
Sobre o autor
Esdras Domingos da Silva é presbítero da Assembleia de Deus – Belém – Campo de Limeira, em Artur Nogueira. Ele é jornalista, bacharel em teologia pelo CETAD e UNAR, especializado em gestão ambiental pela Faculdade Anhanguera e graduando em pedagogia. Esdras é um dos responsáveis pelo site da IEAD Belém e professor do CETAD.
Imagem destaque\reprodução: http://www.centralcultura.com.br/o-verdadeiro-significado-da-pascoa-crista